OS INDIOS DE VALENÇA E SUAS a e
CARACTERÍSTICAS
suas Coroados — era a alcunha dada pelos
portugueses aos índios que habitavam a região existente entre os rios Paraíba e
Preto, em virtude de terem esses mesmos índios, o hábito de cortar os cabelos
no alto da cabeça, à semelhança dos nossos sacerdotes, ou de conservar somente
uma calote de cabelos. Esses índios eram conhecidos, também, pelo nome de
“Coroados do Rio Bonito”, nome ligado ao ribeirão que banha o município de
Valença; essa denominação tinha por fim evitar que se confundissem, com
os Coroados de Mato Grosso, Goiás, S. Paulo e Paraná, também
conhecidos, nos sertões de Curitiba, por “Dorins”. Os índios de Valença,
segundo observa Saint Hilaíre, ter-se-iam originado dos
índios Goítacazes que, repelidos pelos portugueses, em 1630, dos
campos vizinhos da foz do rio Paraíba (Campos), se embrenhavam pelas florestas
das províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. O cientista francês nos dá notícia
de que os Goitacazes não poderiam ter conservado, em florestas quase
impenetráveis, os costumes adquiridos em campo aberto. Renunciaram a sua basta
cabeleira, e o modo por que a cortavam fazia com que os vencedores lhes dessem
o nome de “Coroados”. Escreve A. Gonçalves Dias: “Entre as mais nações se
distinguiam os Goitacazes, habitantes das férteis campinas de Campos,
que deixavam crescer o cabelo, em sinal de liberdade, motivo por que
anteriormente o cortavam a seus escravos; mas, afugentados pela força das armas
para o interior de Minas, e estabelecendo-se de preferência nas terras banhadas
pelos rios Pomba e Xopotó dos Índios, já não puderam conservar o mesmo
distintivo que lhes embaraçava a marcha através das florestas: apararam então o
cabelo em roda da cabeça, e este costume lhes valeu a designação
de Coroados, com a qual é hoje conhecida aquela antiga tribo, a qual,
na sua emigração, se incorporavam os “Coropós “.
“Os Coroados, descendentes dos Goitacazes, combatiam também
no campo; no princípio traziam o cabelo todo crescido; mas, obrigados a
refugiarem-se nas matas, tiveram de o cortar para se não verem embaraçados em
suas marchas, e com a perda deste costume enfraqueceu-se sem dúvida o
sentimento de liberdade, que, entre eles, como entre os Francos, a
cabeleira simbolizava.”
Uma índia
“Coroado”
Um índio “Coroado”
(Rugendas) “As tribus que em
maior número dominavam a província do Rio de Janeiro — escreve Joaquim
Norberto de Souza Silva — parecem descender dos “Goitacazes”: — já pela
semelhança de linguagem — já pela igualdade nos costumes e usos. Tais são, sem
dúvida, os Guarulhos, os Coropós, os Coroados e
os Puris (também conhecidos pelo nome de “Purus”), que desceram dos
mais remotos sertões, e vieram dos Andes. Os Goltacazes dominavam as
margens do rio “Paraíba” (Gabriel Soares de Souza — Noticia do
Brazil, 1a parte — cap. 47 — pág. 67). Simão de Vasconcelos, em
sua “Chronica da companhia de Jesus no estado do Brazil”, liv. 1, § 49,
exprime-se assim a respeito dos “Goitacazes”: — “Nação de gentio
pernicioso, bárbaro e terrivel por nome Goitacá. . . Era esta sórte de gentío a
mais feroz e deshumana que havia por tôda aquela costa; em corpos eram
agigantados, de grandes fôrças, déxtros em arcos, inimigos de tôdas as nações e
tragadores sobremaneira de carne humana, de cujos ossos faziam grandes montes
em seus terreiros, e era êste o mór brazão de seus feitos heróicos as muitas
ossadas dos que matavam e comiam em guerras, assombro perpétuo daquela região.”
“Os “Coropós” ou “Coropoques”, que na opinião do bispo D. José Joaquim de
Azeredo Coitinho foram vencidos pelos “Goitacazes”, e adotados pelos
vencedores, formaram uma só nação com o título de Coroados (“Ensáio
Econômico”, cap. 6, § 7, pág. 88), são ainda hoje conhecidos e distinguidos por
“Coropós”, e foram aldeiados com os “Coroados”, e os “Puris” pelos “Capuchinhos
Italianos”, e, no dizer de Eschwege, falavam a mesma língua.” “E’ dificil saber
o que sejam Coroados — comenta Joaquim Norberto de Souza Silva
— tribus assim, conhecidas nas diferentes províncias do Minas Gerais, São
Paulo, Mato Grosso e Rio de Janeiro, não obstante a saliente diversidade que
existe entre elas (Miliet de Saint Adolfe, Dicc. Geogr. Hist. £ Descript.
do Imp. do Brazil). No Rio de Janeiro, o nome de Coroados foi
generalizado a todos os selvagens que se distinguiam pela maneira de cortarem o
cabelo ou fosse em torno e no alto da cabeça, como os “Goitacazes”, ou só no
alto da cabeça, ficando os cabelos longos e corridos, espargidos pelos ombros,
como os “Ararís”, os “Xumetós” e “Pitás”. “O príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied,
contestando a Ayres de Casal, (Corografia Brazílica, tomo I, pág. 53) nega que
os “Goitacazes” sejam os “Coroados” (Voyage au Brésil, tomo I, chap. V, pág.
197), por deixarem êstes crescer o cabelo, quando o autor de Ensaio
Econômico é tão explícito a este respeito: “E suposto, ajunta o bispo
que foi de Pernambuco, hajam outros muitos índios que também cortam o cabelo ao
redor da cabeça, como circírio de frade, contudo os índios “Goitacazes” são
hoje chamados por antonomásia os Indios Coroados (Cap. VI, §
7o , pág. 88).
Indios
Puris em cerimônia de dança (des. de Debret) E continua comentando Joaquim
Norberto de Souza Silva: “Os “Purís”- diz Eschwege que
- “êles exprimem nêsse nome a sua índole propensa a rixas e brigas”.
— Journal Brazileiro, tomo 1, pág. 108). O autor
da Notícia que se acha no “Livro 1 do. Tômbo da freguezia de S. João
Baptista de Queluz” afirma que “purí ou pachí quer
dizer manso,e que disso jatam” (Revista Trimensal, tomo V, pág.
69). “Os “Purís” — como diz Joaquim Norberto — foram por muito tempo
senhores de vastos sertões, derramados pelas províncias do Rio de Janeiro,
Minas Gerais e Espírito Santo, em contínuas guerras com os Coroados e
os Boticudos, o que tem concorrido para facilitar o seu aldeiamento.
São pequenos na estatura, de côr morena e valorosos, si bem que pérfidos na
guerra (Ayres do Casal — Corograjia Brazílica, tomo 1, pág. 59).
Errantes, suas habitações consistem em ligeiras cobertas de folhas sustentadas
por váras, onde acendem fogueiras para se resguardarem do frio; sustentam-se da
pesca que lhes fornecem os rios; da caça que encontram nos bosques e de frutos
silvestres, principalmente de palmeiras (J. de Laet — Novus
Orbis, liv. XV, cap. 4. pág. 549).
Um
índio
“Puri” Uma
índia “Puri” (Rugendas)
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